Érika Lessa A gente aprende Viva São Jerônimo!

Viva São Jerônimo!

Para comemorar, proponho que façamos algo diferente, abramos horizontes, busquemos novos pontos de vista. Para quê? Para eu poder ter assunto para escrever aqui, ora. 😀 Não sou candidata a nada, mas conheçam minha proposta. 😉

Todos nós consumimos tradução. Nosso dia-a-dia está repleto de produtos, atividades, sites que precisam vir em um idioma que conheçamos. E, como todos devemos saber, é uma das profissões mais antigas do mundo (eu disse “uma das mais antigas” :P). Só temos acesso ao grande arcabouço literário atual graças a este dileto ofício. Ou você achava que Platão escrevia em português?

O que talvez pouca gente perceba é que todos somos tradutores. Traduzimos incessantemente e nem nos damos conta. São símbolos, cores, gestos, expressões… Qual namorado/marido que, ao perguntar à namorada/esposa qual era o problema e ouvir um “nada” gelado como resposta, não pensou “ih, vem chumbo grosso aí!”? Qual mulher que, ao escutar um “minha querida” vindo de alguém que mal conhece, não entendeu que ali cabia uma penteadeira de sarcasmo e/ou falsidade? Quem nunca esteve no trânsito e avistou um amigo a certa distância e entendeu – achando até natural – quando este amigo colocou a mão fechada na orelha, apenas com o mindinho e polegar abertos? Chega a ser banal. Mas me diga uma coisa: você entendeu, pelo gesto, que o amigo vai te ligar ou quer que você ligue para ele. Você chegou a ficar preocupado com as palavras que ele balbuciava, mas que só servem para parecermos lesados (o pior é que todos nós fazemos isso, ha!)? Bom, aposto que não.

Ninguém fica se martirizando com as pequenas informações que perdemos ao longo das traduções rotineiras. E é aqui que eu queria chegar. Em vez de pensarmos “o filme é ótimo, mas a legenda estava horrível. O cara falava um monte e só aparecia uma legenda”, que tal focarmos em tudo o que conseguimos entender por causa dela? Que tal ficarmos satisfeitos em entender quando o intérprete fala “fulano abriu o paciente” e não ficarmos chocados e presos à questão do “nossa! Ele não conhece nem a palavra incisão”?

Essa é minha proposta neste dia comemorativo: não nos prendamos às perdas do movimento tradutório inerente às nossas vidas. Elas ocorrerão, mas serão uma pequena parte do processo. Vamos nos ater ao que de fato importa, ao que compreendemos e entendemos graças a ela.

Viva São Jerônimo!

7 thoughts on “Viva São Jerônimo!”

  1. Belo texto, Érika. É isso mesmo, todos devem fazer este exercício. Começando por nós, tradutores.
    Grande abraço!

  2. Muito inteligente e bem-humorado o seu texto, do jeito que gosto de ler.

    Estou um pouco atrasada, mas é de coração: parabéns, Érika!

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