Érika Lessa A gente aprende — O que você estuda? — Tudo.

— O que você estuda? — Tudo.

Quando conhecemos pessoas novas, invariavelmente vem a pergunta:

— O que você faz?

Num piscar de olhos, avalio quais as possibilidades para saber o que responder. Grosso modo, essa avaliação seria como decidir entre ter que explicar para sua avó toda a gama de atividades que você faz online (e você pensa em Tumblr, Facebook, Twitter, notícias, streaming, MMORPG, Youtube — sabe-se lá mais o que vocês andam fazendo por aí) ou resumir em: “vi na internet”. Às vezes, digo que sou intérprete e a pessoa me olha com cara de “cuma?”. Resolvo explicar e acho que confundo mais do que explico, sendo que (muitas vezes) aquilo não vai fazer a menor diferença na vida da pessoa. 😛

Digressões à parte, quase sempre respondo que estou terminando o mestrado, já esperando pela fatídica pergunta:

— O que você estuda?calvin

Aí, meu filho, o bicho pega. Tenho vontade de dizer:

— Tudo. Tuuuudo! Tudinho mesmo. TU-DO!

Não digo porque tenho medo que me achem mais louca.

Nas últimas semanas tenho estudado com muito mais afinco, porque eu e uma colega decidimos puxar uma à outra, no melhor estilo “reboque”. Tem sido uma mão na roda, já que muito raramente nossas preguiças se combinam (que burras!), então nosso carro atolado tem conseguido andar. Organizadas que somos (hahaha), temos uma lista de coisas a serem estudadas. Não são assuntos da parte técnica do curso, digamos assim. Normalmente, são temas de conhecimento geral e/ou atualidades. Eles nos fizeram perceber que:
(   ) a. dormíamos muito nas aulas da escola;
(   ) b. nossa memória não presta;
(   ) c. não aprendemos é nada;
(X) d. TODAS AS ANTERIORES.

Começamos, lépidas e fagueiras, com o conflito árabe-israelense. Batido, né? Pois. Via na TV e “ah, é aquela parada lá, beleza”. Se me pedisse para explicar, lá vinha a gagueira seguida de um “acho que” ou “sei lá”. Decidimos que era hora de acabar com isso. Bons intérpretes devem ser muito bem informados.

Começamos. Estuda daqui, escarafuncha dali, encontramos o HAMAS. E surgiram as dúvidas sobre o grupo. Vasculha os quatro cantos da Internet para saber mais…

A questão é que o mundo não para enquanto a gente está ali, queimando a mufa para acompanhar. Pipocam assuntos a todo momento: ISIS, Boko Haram, Je suis Charlie, ebola, Rosetta… Basta sentar para ler as notícias e surge uma série de porquês a saracotear na nossa mente. A lista só cresce.

calvin_estudar

Really?! Really?!

 A sensação é de que nunca vai ser o bastante; de que, por mais que estudemos e nos dediquemos, sempre haverá uma variedade absurda de temáticas que nos serão completamente alienígenas. E é para ser assim mesmo. Não há condições de abarcarmos todo o conhecimento disponível no mundo. Sempre vai ter o que absorver, seja coisa nova, antiga, antiga com cara de nova e vice-versa.

Quando penso na dimensão do que ainda há para aprender, me sinto pequena e praticamente carrego todo esse peso nos ombros. Dá vontade de largar de mão. “Pra quê? Nunca vai ter fim mesmo.”

Não é para ser assim. A certeza socrática do “só sei que nada sei” deve servir como incentivador da busca, da inquietação pelo saber, da sede por informação. É preciso estudar sempre. E muito. E de tudo. Ainda que seja um pouco. De preferência, muito. De preferência, tudo. Se não der (e já se sabe de antemão que não vai dar), tudo bem. O que importa é não parar de tentar.

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