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Vamos falar sobre feedback?

Posted by Érika on Mar 21, 2019 in Esmiuçando

Tempos atrás escrevi um artigo para a Revista Metáfrase falando sobre feedback.
Fiquei de replicar aqui, mas sabe como é: life happens.

Antes tarde do que nunca, não é mesmo? Segue o link para a revista.

Vamos falar sobre feedback? (pág. 18)

Por mais complexo que seja, dar e receber feedback é fundamental para o intérprete de conferência

Por Érika Lessa

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O que mata é a preguiça

Posted by Érika on Aug 6, 2014 in Esmiuçando

Tenho lido uns textos simpáticos, crônicas sobre comportamento, descrições de perfil e até mesmo artigos sobre tradução e/ou tradutores. São tão bonitinhos, costuradinhos, coesos que solto suspiros apaixonados: “Poxa, queria escrever assim”. #invejosa São pensamentos aleatórios que vêm em um nanossegundo e somem, tão rápido quanto surgiram, pois sou tragada pela realidade ou pela Internet (bom, todos sabemos que é basicamente pela segunda 😀 ). Aí você abre o Timehop. Lá tem um texto super simpático, tal qual aqueles que tanto gosta de ler. Foi você quem postou, e já tem algum tempo. “Ué, é meu mesmo?”. É, sim. E o melhor: você ainda gosta dele. Pode encontrar uma ou outra vírgula fora do lugar, mas ainda lhe agrada.

E por que não escrevo mais vezes? Poderia elencar uma série de motivos, entre eles a falta de assunto ou aquela crise existencial de que o texto tem que ser relevante para os demais, de não ser mais do mesmo, essas coisas. Acabo ficando refém de insights e inspirações. O problema é que o tema pode surgir, sim, como uma inspiração em um momento de lazer (no meu caso, quase nunca) ou mesmo de trabalho (olá, Dona Procrastinação!), porém não podemos depender de uma senhora tão temperamental. A Dona Inspiração é exigente. Gosta de gente esforçada. Aí ela até considera uma maior frequência nas visitas.

Quando você se propõe a escrever (uma resenha, um artigo etc.), o objetivo é que o resultado seja relevante, como já disse. Fato é que, sem nem mesmo tentar, muitas vezes abandonamos várias ideias pelo caminho. No trabalho, no meio do filme, no trânsito. Elas surgem, nem sempre é possível anotar ou gravar as primeiras ideias. Ou até dá, mas a gente acha que vai lembrar depois. Ha! Surgiu ela: *PUF*

preguiçaDona Preguiça chega e toma conta de tudo. Um futuro texto se perde. E o ciclo se reinicia. É preciso interromper esse ciclo. Criar maneiras de reter  temas: anotar, gravar, esboçar. Esboçar. Taí a melhor maneira. Sente-se. Comece a escrever. Nem que seja para deixar aquele post ali, pendurado, maturando como bons uísques. Pode ser que seu barril de carvalho não lhe renda o prêmio de melhor da categoria, ou nem mesmo chegue a constar nas revistas especializadas, mas não necessariamente deixará de ser prazeroso. Programe-se. Escolha uma hora durante a semana para trabalhar um texto, aquele esboço feito no momento de pressa. Não quer dizer necessariamente a produção de um texto nesse curto período. Até pode acontecer, mas não se exija tanto. O foco é não deixar que Dona Preguiça fique à vontade. Ela é espaçosa, confortável, agradável até, mas uma assassina impiedosa de acontecimentos, realizações e textos, claro.

* Carapuça devidamente vestida.
** Este é um texto “maturado”. 😉

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Congressando – Abrates (1/2)

Posted by Érika on Jul 3, 2013 in Esmiuçando

**Update:

Queria muito ter feito posts detalhados a respeito das outras conferências que fui, mas não consegui. Percebi que o fato de ainda não tê-las feito me impedia de escrever sobre outras coisas. Vou pular, ok? O que tiver sido de fato marcante, vou tentar abordar de outra forma, com posts individuais (ou sabe-se lá de qual outra maneira possa vir a me ocorrer ;)). Desculpa, gente. E obrigada pela compreensão. 🙂

 

 

Ok, eu não deveria ter demorado tanto para dar meu relato sobre esse evento. Passou só um mês, mas me dá a sensação de chover no molhado, porque muita gente já falou a respeito. Mas vou fazer assim mesmo. 🙂 Na pior das hipóteses, vou corroborar com o belíssimo trabalho feito por amigos queridos.

Como mencionei no post anterior, o Abrates 2013 teve pontos a serem destacados. E é por aí que vou começar.

1. Palestra de abertura no fim da tarde, com coquetel em seguida:

Perfeito! A princípio, pode parecer perda de tempo: “poxa, mas vou ter que ir mais cedo só para ver a abertura? Mais uma diária de hotel, menos um dia de trabalho…”.

Só que se a gente analisar, os benefícios foram bem maiores do que a aparente “desvantagem”:

a) As pessoas puderam viajar em um horário mais decente. Achei um luxo poder sair às 10 da manhã de casa e sem perder nada do evento.
a.1) Por conta disso, foi possível encontrar alguns colegas no já aeroporto e começar a bater papo ali mesmo. 🙂

b) Nós, participantes, estávamos mais ansiosos pela fala inicial, sabendo que depois havia um momento de descontração. Todos muito mais leves, mais atentos, menos dispersos.

c) O coquetel! Ah, o coquetel… Foi ótimo rever amigos, abraçá-los, rir, programar as tarefas do dia seguinte (ok, isso foi o que a gente menos fez), e já conhecer algumas pessoas, mesmo que de vista. Sinceramente, acho que conhecer as pessoas antes do evento — mesmo que de vista — já dá um sentimento de “estar em casa”. Uma delícia. 🙂

2. Cabine para iniciantes:

Eita ideia batuta: um evento profissional de tradução e interpretação dando chance para quem desejasse passar pela experiência dentro da cabine.

Todos podiam participar. Bastava colocar o nome em uma lista afixada na lateral da cabine (ok, teria sido melhor se fosse em outro lugar, porque ter pessoas vendo a lista e/ou escrevendo seus nomes nela acabava distraindo quem estivesse do lado de dentro — e quando não se está acostumado, pode atrapalhar demais, mas isso não tira o brilho da coisa) escolhendo um horário e mandar ver.

Os que aproveitaram a oportunidade, foram acompanhados de perto por profissionais experientes, podendo contar com comentários e observações posteriores. Não é um luxo?

Fiquei muito feliz de poder fazer parte desse momento. Algum tempo atrás, era eu quem estava ali, nervosa, tensa, com pavor de não dar conta. Felizmente, tive quem segurasse a minha mão, me fizesse respirar fundo e seguir em frente. Sou incrivelmente grata por isso e espero ter conseguido fazer algo parecido por aqueles que estiveram comigo durante aquele breve período.

Ressalto ainda que todos os que lá entraram foram muito corajosos. Sim, foi uma senhora oportunidade, mas não fique você achando que é fácil. Tem gente que é mais “casca grossa” para essas coisas, mas segurar o emocional é tão ou mais difícil do que desenvolver a técnica de interpretação simultânea. Além de toda a pressão, ali estavam colegas tanto na escuta (alguns com essa intenção avaliativa mesmo. Normal, mas dá um medão.) quanto nas palestras (alguém lembra do Ricardo Souza dizendo ser um “catamilhógrafo”? :D). É bom por isso. E é ruim pelo mesmo motivo. Portanto, repito: estão todos de parabéns. 😎

Ainda quero falar brevemente sobre as palestras que vi, mas fica para outro post. 🙂

E você? Tem mais alguma coisa a destacar?

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Tradutora e/ou intérprete?

Posted by Érika on Feb 25, 2013 in Esmiuçando

Tsc, tsc, tsc. Tanto tempo sem atualizar, não é?
Posso dizer que andei sem tempo? Até posso, mas essa não é toda a verdade. Não foi este o único fator. A questão é que quando tive tempo, não tive ideia. O tempo urge e ninguém quer ler mais do mesmo. E, quando tinha ideias, era sempre (eu disse sempre) no meio do caos. Aí passava a vontade, ou a intenção. Minha inspiração é uma entidade muito temperamental. Se ela diz “escreve aí” e ouso não obedecê-la, a danada desaparece.

Que ela não me ouça, mas (aparentemente) consegui ludibriá-la! Resolvi gravar mensagens de voz no celular (usando Voice Memo do iPhone)! Esboço rapidamente o tema. Mais tarde, sento aqui e tcharam! Sai um post! Parece que agora nos veremos mais frequentemente. 🙂

Bom, o que me chamou atenção essa semana, foi uma comparação: “Um intérprete pode ser tradutor, mas este dificilmente será um intérprete”. E eu me perguntei: será?

    

http://bit.ly/Yvmjcj

http://cdn.sheknows.com/articles/2012/03/woman-on-computer.jpg

Parece até natural, não é? A interpretação é ágil, o jogo de cintura é quase frenético, o resultado é imediato. Há o olhar de todos, o domínio do psicológico, o pavor do “branco”, muitos acreditam que fariam melhor. É senso-comum que se faz necessário ter treinamento para tal função, seja este formal ou não (embora eu, particularmente, considere mais inteligente ter uma educação formal antes de se jogar no mercado. Afinal, por que ter de reinventar a roda se podemos aprender com quem já traçou esse caminho?). Obviamente, é de se esperar que se o intérprete consegue fazer “tudo isso” com restrição temporal, se tiver alguns dias de prazo, consegue traduzir com o pé nas costas. Confere?

Não. 🙂 Não necessariamente. Embora ambas as profissões façam parte de um mesmo setor e sejam, muitas vezes, colocadas em um saco só, cada uma vai ter sua especificidade. Estou dizendo que quem exerce uma não pode exercer a outra? Também não. Até porque, né?, estaria contradizendo a mim mesma, visto que exerço ambas as funções. O que quero deixar claro, é que os focos precisam ser ajustados para o processo utilizado.

Assim como um intérprete não pode se dar ao luxo de querer sempre a palavra perfeita para a ocasião — e aqui tem uma frase que aprendi com minha amiga e mestre Marcelle Castro que me foi libertadora: “A interpretação me ensinou a lidar com a frustração. Se não achei a melhor opção, paciência. Não tenho tempo de me lamentar porque a informação não vai parar de vir e preciso me concentrar nela” — o tradutor precisa quebrar a cabeça para que uma rima não se perca, por exemplo, e, dependendo do que seja, pode custar boa parte do prazo (que parece uma eternidade quando comparado à interpretação, mas que se torna cada vez mais reduzido).

Resumindo a grosso modo, podemos dizer que o foco do intérprete é entregar a informação. Pode ser que ela venha com algum prejuízo de regência ou de concordância. O tradutor tem mais trabalho com a forma, pois a palavra escrita grita. Está ali, eternamente. É uma legenda que vai passar na TV e você fica pensando “putz, podia ter feito diferente”.

Portanto, não acho que uma dificulte a outra, necessariamente. Mas é preciso conhecer bem ambas, reconhecendo as características de cada uma e mudando a chavezinha da cachola.

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Sou autônoma, sacou?

Posted by Érika on May 22, 2012 in Esmiuçando

Dia desses, domingão de sol, tomei uma dura de uma amiga por andar “sumida”.  A reclamação é até justificada, já que faz tempo que não vejo os amigos. Mas tenho razão para isso. Casamento, família, trabalho — muito trabalho. Essas questões, porém, são muito variáveis por serem pessoais. O que me levou a escrever foi uma frase em especial dessa amiga:

– Pô, você trabalha 24 horas por dia?

Isso me deu um clique. Lembrei que a maioria das pessoas está acostumada aos seres que trabalham das 9h às 18h, com horário de almoço, fins de semana livres e tudo mais. Pois é. Mas comigo (e com a maioria dos meus colegas de trabalho) não é bem assim que funciona.

A flexibilidade de horários é uma coisa muito boa. Porém, em caso de percalços e imprevistos, você acaba despindo um santo para cobrir o outro. Explico: você acordou, sentou para trabalhar. Tinha apenas um arquivo pequeno para revisar e combinou de almoçar com um amigo querido. Uma hora depois, seu cliente bacanudo entra em contato, precisando de um documento importantíssimo, de 4 mil palavras para amanhã. As opções não são muito animadoras: ou você cancela o almoço e continua trabalhando, defendendo as contas do mês seguinte; ou você vai ao almoço, preocupado com o que ainda resta a fazer, não presta atenção à conversa, indo logo embora; ou deixa rolar e seja o que Deus quiser, afinal, a noite é uma criança. De todas as opções, a primeira é a mais racional e saudável a ser escolhida (com o tempo a gente aprende que nosso rendimento durante a noite é bem avariado pelo cansaço, podendo gerar estragos na nossa reputação de bons profissionais), mas acaba sendo mal vista por familiares e amigos.

É, não são só os amigos que não entendem bem do que se trata ser autônomo. Familiares também. Meu irmão tem o talento de saber os dias em que trabalhei até de madrugada e me ligar às 7 da manhã para tratar de coisas meramente triviais, que poderiam ser resolvidas às 11h, por exemplo. É impressionante! Não erra uma! Minha mãe, por sua vez, acha que trabalhar em casa é igual a estar de folga. “Minha filha, vai na casa de fulano entregar tal coisa”, sendo que fulano mora no cafundó do Judas, e adora bater um papinho. No barato, eu perderia uma tarde inteira para fazer a tal entrega. Hello? Fora os pepinos domésticos que, “já que você está em casa mesmo”, acaba tendo de resolver: um vazamento na descarga, a máquina de lavar que deu pane, receber o montador de um móvel.

Quer dizer, não trabalho 24h por dias, mas às vezes bem mais do que a carga horária padrão — mesmo que seja picadinho ao longo do dia, entre uma banalidade cotidiana ou outra.

Portanto, amigos, amo vocês de paixão, mas preciso pagar as contas e os choppinhos que gostamos de tomar, o que significa que se um cliente repassar um serviço às 16h, com prazo apertado, nossa saída vai ficar comprometida (isso sem falar nos clientes internacionais, com diferença de fuso de 6h, por exemplo). Continuo vos amando, mas não me exijam rotina. Meu trabalho não é assim e eu gosto. Mas na terça tô livre pra pegar uma prainha de manhã, bora?

P.S.: falamos sobre as diferenças entre ser tradutor autônomo e contratado no Tradcast tempos atrás. Ouve lá 😉

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Legado do Obama no Brasil

Posted by Érika on Mar 22, 2011 in Esmiuçando

Hoje é terça-feira, o Obama seguiu com sua turnê visita aos países sulamericanos ontem e o “oba-Obama” ficou mais ameno. A visita, exageros à parte, tem sua relevância e deve marcar nossa história de uma forma que só o o tempo dirá. Isso não significa, porém, que não possamos – desde já – identificar melhorias e traçar metas.

Acompanhei o simpático e envolvente discurso do “Mr. President” pela Globo, observando atentamente o trabalho da Ana Vianna. A escolha de palavras, a entonação, a totalidade do conteúdo entregue… Quem assistiu sabe que foi bastante agradável, num ritmo gostoso de se ouvir. Ficou bem clara sua alta qualificação para o serviço. Assisti também, posteriormente, a interpretação de Ulisses Wehby – igualmente bem feita e boa de se acompanhar. Ambos os colegas são profissionais competentíssimos, bastante conhecidos e reconhecidos no mercado, com anos de experiência. Isso ninguém discute. É indiscutível, também, a qualidade do material recebido – que implica diretamente no trabalho final.

Já falei aqui que muito dos nossos resultados depende do material que recebemos. É como na maquiagem.  Se você tem uma mulher bonita, basta usar as técnicas nos locais adequados e você deixará a moça ainda mais bela (é lógico que é preciso investir em material de qualidade. Isso, aliás, foi discutido aqui). Agora, se a mulher em questão é desfavorecida fisicamente, não há técnica, pincéis nem argamassa que a transforme numa Gisele Bündchen. Certamente, ela ficará melhor do que antes, mas ainda pode assustar muita gente. A questão é: seu cliente vai lembrar deste “detalhe”? Tenha isso sempre em mente antes de aceitar aquele texto tribufu.

Na verdade, o que me saltou aos olhos não foi apenas a elegância de Michelle e a boa pinta de seu marido. O destaque que deve ser dado aqui é: como ele é bom orador! Frases completas, pausas inseridas no momento certo, dicção clara… O sonho de qualquer intérprete! Ah, como sofremos quando o palestrante está nervoso e sai desembalado proferindo palavras como uma metralhadora ensandecida, possuída pelo Coelho de Alice. Ou quando começa um raciocínio que se enche de parênteses abertos que nunca serão fechados porque o fio da meada ficou perdido em meio ao primeiro parêntese. Ou seria em meio ao segundo? Brasileiro é mestre nisso! Ou, ainda, quando o momento é para perguntas e o falante a ser interpretado decide fazer um comentário (outra especialidade tupiniquim).

Se você realmente deseja que sua mensagem seja ouvida e compreendida – o que seria o objetivo precípuo de quem faz um discurso, ministra um curso etc. – seja simples, objetivo, direto. Não encha seu discurso com coisas que possam ser vistas e absorvidas em um slide (números, por exemplo. Por que dizer que quatro milhões, novecentas e setenta e duas mil, duzentas e uma pessoas foram picadas pelo mosquito X enquanto que quinhentas e quarenta e quatro mil, oitocentas e vinte três pessoas foram infectadas pelo mosquito Y se isso pode ser mais rapidamente visualizado em uma tela? Se não tiver projetor disponível, que tal arredondar tais números?). De que adianta seu trabalho ser suuuuper completo com todos os dados, se você tem apenas 10 minutos para apresentá-lo? Foque no primordial, no diferencial… quem quiser mais informações, poderá receber um relatório mais completo da sua pesquisa, por exemplo.

Temos a tendência de achar que nosso trabalho/relatório/discurso é 100% relevante a todos – e daí surge a dificuldade de enxergar o que pode ser retirado para torná-lo mais leve e proveitoso para quem nos assiste. Podemos começar a exercitar isso em nossas futuras apresentações. Em vez de tentar o socar o máximo de informação possível naquele curto espaço de tempo, podemos pensar: como Obama faria? Seu público agradece.

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Açaí

Posted by Érika on Nov 11, 2010 in Esmiuçando

E o mundo se globalizou. O açaí retirado das entranhas da floresta amazônica, base da refeição dos ribeirinhos, passa então a ser consumido nas grandes metrópoles do país. O nortista logo se anima: “Nosso fruto faz sucesso!”. É? Não é bem assim.

Olhando rapidamente é igual: a cor é forte, bem espesso, tingindo a boca de roxo (e a roupa também, tome cuidado). Mas, em termos de açaí, não se engana um nortista (vou passar a dizer paraense porque é essa a experiência que tenho, embora saiba que deve acontecer de forma semelhante nos demais estados da região). Basta uma colherada. Talvez nem isso. Sabe por quê? Nosso açaí é simples: basta açúcar. Devo até ressaltar que paraense da gema mesmo (meus pais são cariocas, embora tenham quase 40 anos de Pará) nem açúcar põe, porque ele faz parte do almoço. Come-se o açaí acompanhado de algum salgado. Pode ser camarão frito, carne seca, peixe frito. Assim, ó:

Refeição tipicamente paraense

É uma colherada de açaí com farinha (ou não), outra do peixe/camarão/ carne. Sei que parece estranho, mas eu adoro. Ademais, também é bem estranho para a gente imaginar misturar xarope de guaraná, granola, banana, morango, etc. ao açaí. E digo mais: não há quem o considere energético por essas bandas, não. Dá uma moleza. Pesa no estômago.

Você deve estar se perguntando: ora essa, como pode? Também é simples. A polpa que chega lá para baixo é muito menos concentrada do que aquela consumida aqui. Afinal, importar o açaí é caro – o que acabou encaracendo o produto no mercado local também, questão de oferta e procura. E para aumentar os lucros, surgiu a ideia de adicionar outros ingredientes à polpa congelada. Banana e granola cumprem bem esse papel. Depois, basta vender a imagem de que é saudável – o que realmente é – e pronto. Experimenta comprar um na casa de sucos no centro-sul e deixar derreter. Afirmo que fica uma água roxa, pois não bastasse misturá-lo com banana e granola para engrossar, o açaí que vem, é dos mais finos.

O que? Você não sabia? São vários níveis e preços de açaí. Tudo depende da quantidade de água colocada na máquina para extração:

Basta colocar as frutas e água e bater.

Queria ter achado uma foto das tabelas de preços que dividem o açaí em Cosanpa (Companhia de Saneamento do Pará, ou seja, beeeem ralo), fino, médio, grosso. Alguns ainda vendem o açaí papa, que é bem concentrado, bem “plosh, plosh”.

Ah, tem mais uma coisa: açaí se compra no dia, tem que ser fresquinho. De um dia para o outro azeda, muda o sabor, é outra coisa. Se congelar, ainda dá para consumir. Mas, o ideal é comprar de manhã, para tomar no almoço (como eu disse, é pesado, normalmente não se toma à noite). Uma vez provei o açaí de um amigo. Tinha morango. Disse a ele que estava azedo, ao que ele respondeu que era por causa do morango. Ah, mas não era mesmo, era apenas mais uma camuflagem.

De tudo o que eu disse, espero apenas que fiquem atentos ao açaí azedo, porque é uma questão de saúde. No mais, vai de gosto. De qualquer forma, sugiro que você conheça o verdadeiro açaí, que no Rio você encontra no Tacacá do Norte, na Barão do Flamengo (juro que não é de nenhum parente!). Depois me diz se estou errada. 🙂

O que isso tem a ver com tradução? Digamos que o açaí consumido fora do Norte foi traduzido e adaptado aos costumes locais. E eu resolvi fazer esse cotejo. 😉

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