Açaí

Posted by Érika on Nov 11, 2010 in Esmiuçando |

E o mundo se globalizou. O açaí retirado das entranhas da floresta amazônica, base da refeição dos ribeirinhos, passa então a ser consumido nas grandes metrópoles do país. O nortista logo se anima: “Nosso fruto faz sucesso!”. É? Não é bem assim.

Olhando rapidamente é igual: a cor é forte, bem espesso, tingindo a boca de roxo (e a roupa também, tome cuidado). Mas, em termos de açaí, não se engana um nortista (vou passar a dizer paraense porque é essa a experiência que tenho, embora saiba que deve acontecer de forma semelhante nos demais estados da região). Basta uma colherada. Talvez nem isso. Sabe por quê? Nosso açaí é simples: basta açúcar. Devo até ressaltar que paraense da gema mesmo (meus pais são cariocas, embora tenham quase 40 anos de Pará) nem açúcar põe, porque ele faz parte do almoço. Come-se o açaí acompanhado de algum salgado. Pode ser camarão frito, carne seca, peixe frito. Assim, ó:

Refeição tipicamente paraense

É uma colherada de açaí com farinha (ou não), outra do peixe/camarão/ carne. Sei que parece estranho, mas eu adoro. Ademais, também é bem estranho para a gente imaginar misturar xarope de guaraná, granola, banana, morango, etc. ao açaí. E digo mais: não há quem o considere energético por essas bandas, não. Dá uma moleza. Pesa no estômago.

Você deve estar se perguntando: ora essa, como pode? Também é simples. A polpa que chega lá para baixo é muito menos concentrada do que aquela consumida aqui. Afinal, importar o açaí é caro – o que acabou encaracendo o produto no mercado local também, questão de oferta e procura. E para aumentar os lucros, surgiu a ideia de adicionar outros ingredientes à polpa congelada. Banana e granola cumprem bem esse papel. Depois, basta vender a imagem de que é saudável – o que realmente é – e pronto. Experimenta comprar um na casa de sucos no centro-sul e deixar derreter. Afirmo que fica uma água roxa, pois não bastasse misturá-lo com banana e granola para engrossar, o açaí que vem, é dos mais finos.

O que? Você não sabia? São vários níveis e preços de açaí. Tudo depende da quantidade de água colocada na máquina para extração:

Basta colocar as frutas e água e bater.

Queria ter achado uma foto das tabelas de preços que dividem o açaí em Cosanpa (Companhia de Saneamento do Pará, ou seja, beeeem ralo), fino, médio, grosso. Alguns ainda vendem o açaí papa, que é bem concentrado, bem “plosh, plosh”.

Ah, tem mais uma coisa: açaí se compra no dia, tem que ser fresquinho. De um dia para o outro azeda, muda o sabor, é outra coisa. Se congelar, ainda dá para consumir. Mas, o ideal é comprar de manhã, para tomar no almoço (como eu disse, é pesado, normalmente não se toma à noite). Uma vez provei o açaí de um amigo. Tinha morango. Disse a ele que estava azedo, ao que ele respondeu que era por causa do morango. Ah, mas não era mesmo, era apenas mais uma camuflagem.

De tudo o que eu disse, espero apenas que fiquem atentos ao açaí azedo, porque é uma questão de saúde. No mais, vai de gosto. De qualquer forma, sugiro que você conheça o verdadeiro açaí, que no Rio você encontra no Tacacá do Norte, na Barão do Flamengo (juro que não é de nenhum parente!). Depois me diz se estou errada. 🙂

O que isso tem a ver com tradução? Digamos que o açaí consumido fora do Norte foi traduzido e adaptado aos costumes locais. E eu resolvi fazer esse cotejo. 😉

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2 Comments

Thays
Nov 11, 2010 at 10:44 pm

Adorei o cotejo do açaí.

Um dia ainda provo. Confesso que tenho um pouco de nojo dessa coisa meio aguada. Mas qd a gente for pra Belém bebo da fonte 🙂


 
Felipe
Nov 16, 2010 at 3:01 pm

Adorei também. Sabia que era diferente, mas não fazia idéia do quanto. Ainda experimento o original, mas não se irrite se no final das contas eu ficar com o meu açaí ralinho de paulista… 🙂


 

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